8.28.2008

A literatura contemporânea segundo Bonassi

Adorei a orelha que o Bonassi escreveu para o Puro Enquanto, que deixei no post logo acima. Para quem quiser saber porque eu me identifico com a escrita dele, recomendo veementemente sua nova peça, Literatura contemporânea. Está em cartaz em São Paulo no SESC Paulista, mas acredito que vá circular pelo Brasil todo.
É um monólogo afiado, interpretado por César Figueiredo, onde se discutem diversos problemas que assolam a atividade do escritor. A dificuldade de se manter resistente quando a escrita é encomendada, os impasses ideológicos, as veleidades (ou frescuras, como ele traduz) e a nostalgia por um tempo em que a literatura parecia mais transformadora. O texto do Bonassi não se rende a facilidades: a tudo isso ele vê de um panorama vasto, pós-utópico, sem esquemas prontos, passeando pelas correntes do pensamento contemporâneo sem que nenhuma se torne camisa-de-força. Ao mesmo tempo - e não fosse isso, não teria graça alguma - ele não absolve nem a si mesmo, sabe rir de si e de seu lado sórdido, permitindo que a literatura não se reduza a mero projeto moralizante.

Vou deixar para vocês um trecho em que ele cutuca os escritores que não passam de representantes da boa consciência:

Um gesto resistente desses terroristas parece mais convincente do que suas páginas moralistas e supostamente revolucionárias... Não que sejam reacionárias, mas é esse "bom senso" que as aniquila... e como o "bom senso" é de todos, há sempre essa vivência emprestada, entendiada, empestada...


Foram tantas as vezes em que eu senti exatamente isso, diante de obras feitas com nada mais do que "boas intenções"...

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