5.24.2010

Divagando: sexo, sedução e envolvimento

* Se, apenas por um instante, eu tivesse acesso à mente divina, e pudesse escolher um único conhecimento, seria o do impossível da mulher. Simplesmente o mais labiríntico dos mistérios.

* O maior erro que um homem pode cometer é tentar ler sua amante em linha reta. Estamos falando da mais sinuosa das criaturas.

* Duas pessoas não se movem juntas, a menos que rodopiem em passos de dança.

* A mulher vem adotando posições que antigamente eram do homem. A cultura, o pensamento e a política só têm a ganhar com isso. Por outro lado, homens e mulheres parecem cada vez mais perdidos.

* Para não ficar para atrás, o homem vem se feminilizando. É uma reação desesperada ou estratégia certeira? Mudança real ou aparente?

 * Será que há um eterno feminino, acima de todas as variações históricas? Pode surgir uma überfrau, uma super-mulher?
 
* Apesar das mudanças, em sua maioria o brasileiro continua machista. Inclusive grande parte das mulheres, e inclusive muita gente dotada de senso crítico.

* Por considerar que o homem é quem mete, muita brasileira acha que seu poder está em valorizar a maneira como se sub-mete. A ação é toda dele, ele é o sujeito do verbo, e ela se deixa posicionar como objeto. 

* Lacan dizia que a mulher não existe. E as lacanianas, o que dizem?

* Poucas coisas me parecem mais raras do que relações onde os dois se posicionem como sujeitos.
 
*Em um casal, geralmente, um dos dois tende a se conformar com o papel de mais fraco e o outro a se aproveitar disso. Nem sempre o homem é o forte do casal - seu papel pode ser o de um castrado para o gozo fálico da histérica. E tampouco a histérica chega a ser um sujeito pleno, pois mal encontra força que não seja roubada do outro; ou seja, é reativa. Para que os dois existam na relação, o equilíbrio de forças é delicadíssimo.

* É uma pena que muitos homens se apavorem quando são a caça, e não o caçador. Infelizmente, inúmeras mulheres evitam tomar a iniciativa sempre que gostariam, para não intimidar.

* Uma mulher que aborda não se rebaixa facilmente a mero objeto, ela começa muito ativa. Nem que seja por uma noite, podem ser duas pessoas assumindo plenamente seus desejos, sem pudores.

* Mirem-se no exemplo das mulheres roqueiras. A expectativa romântica, no sentido novela das oito, costuma ser bem menor do que a da maioria. Isso é saudável. Não é preciso ser mulherzinha para ser feminina; pode-se falar e agir com a mesma potência que os homens. E lidam melhor com os homens ao não esperarem por um príncipe encantado. Nada mais devastador para qualquer coisa real do que um ideal inalcançável.

* Enquanto o amor não vem, o sexo pode ser só sexo. Aliás, apenas os pudicos acham que ir para a cama com uma pessoa não pode ser o início de uma conexão forte e honesta. Pode ser uma oportunidade para conhecer alguém em sua intimidade, não só física. A nudez de duas pessoas na cama após uma noite de prazeres - só depois desse tipo de proximidade é que há como saber realmente se vale a pena investir em uma relação duradoura. 

* Tanto homens quanto mulheres se boicotam muito. Para ser justo, não é só a mulher que tem discursos sinuosos, medos e inseguranças de toda sorte. É sempre mais fácil obter prazeres moderados do que se entregar a uma pessoa que realmente valorizamos. Quando sentimos que temos muito a perder, nos apavoramos. O problema é, em grande parte, falta de amor-próprio. A maior armadilha é depender demais do outro para se sentir bem.

* Quanto mais temos uma reserva de auto-estima, mais podemos nos entregar a pessoas que nos toquem intensamente. Porque temos gordura para queimar, podemos nos arriscar sem o medo de que, caso percamos o parceiro, não nos sobre nada. Então, sim, nos aventuramos. Se não nos sentimos especiais, como sustentar o olhar de alguém que consideramos especial?

* A vida é uma só, mas as histórias podem ser muitas. É altamente recomendável experimentar-se tanto quanto puder. A melhor maneira de conhecer a si mesmo é nessa espécie de dialética com os parceiros.

PS:
* Já vivi uma situação em que do primeiro olhar ao beijo não foram nem quinze segundos - e foi um momento bem marcante. E situações em que o vamos nos conhecer melhor não me soou como um fazer-se-de-difícil, apenas como o convite para um degelo mais lento. Não se trata da velocidade, mas de sinceridade e integridade.

2 comments:

Priscila Moreno said...

Gostei. Eu mesma jurei nunca mais tomar iniciativa nenhuma. É impressionante o tanto que os moços ficam assustados! Sabe, eu fico com pena dos homens. Ter que lidar com mulher não deve ser fácil não. Mas tenho mais pena das mulheres. A gente é muito presa. E é a gente que se prende. O que deixa tudo muito mais triste, eu acho. Enfim... Gostei das coisas que vc escreve!

Ivan Hegen said...

Oi, Pri!

Que bom que você gostou! Acho que tanto os homens quanto as mulheres andam bem confusos ultimamente. Isso rende muita conversa, qualquer hora a gente estica a prosa.

Beijão