8.25.2007

Correspondência

Para compensar um pouco minha rabugentice - a teimosia em não abrir pra comments - vou postar aqui um dos e-mails mais bacanas que já recebi de um leitor:

Li tuas divagações sobre arte e vida e gostei muito. escreve bem, muito bem. dá gosto te ler. no dia seguinte do lançamento comprei teu livro. li. devorei tuas palavras, teus sentimentos escancarados. li sem descanso, sem compromisso, sem limite. até o fim. me apaixonei por tua paixão, tua chama, tua solidão, tua descrença, tua crença ferrenha, tua revolta e tua multidão de sentires. teu livro é um grito de vida prenhe, um sol, "imensa gravidez celeste". e, como você teceu no teu livro; ao longo dos séculos, somos assim, humanos, demasiadamente humanos. mas será que você é como helmut, meio anjo de win wenders? meio anjo meio demônio, daqueles seres que mergulham nas profundezas da alma humana? tua "subjetividade é subjetiva demais"? ivan, parabéns. teu livro provoca sensações/reflexões. é palpável teu desejo, teu tesão, vida, morte, sofrimento, solidão e esperança. parece um gozo que leva ao saber-tudo, e conclui a beleza do não-saber. belo grande livro.

Ana Paula Gomes

8.11.2007

FAQ HEGENBERG

Perguntas mais freqüentes que me fazem a respeito dos livros, do blog, da carreira e outras curiosidades, respondidas aqui para saciar o voyeurismo do leitor.


- Ivan, por que você leva tanto tempo pra atualizar teu blog?

Adoro ouvir essa pergunta, sinal de que querem ler mais!

Mesmo que eu quisesse, não saberia manter um blog do tipo agenda cultural, não tenho competência pra isso. Por outro lado, acho que meus textos mais antigos se mantêm atuais, alguns já são quase lendários, e tem gente que vai lá atrás ver o que eu escrevi. Acho isso mais bacana do que escrever qualquer coisa apressadamente. Também acho que se eu jogasse muitos textos curtos, os antigos cairiam no limbo.

- Diz aí, como é que você pode parecer tão normal por fora e ser tão louco por dentro?

Um bom jeito de explicar é dizendo que eu sou filho de psicanalistas. Os psicanalistas também parecem equilibrados, mas por dentro estão no mais completo caos. Meus pais me enlouqueceram muito, em compensação me ensinaram a racionalizar minha própria loucura, e deu nisso que vocês estão vendo.

- Você é meio deprimido, cara?

Dos meus 19 aos 25 anos essa pergunta era bem freqüente. De uns anos pra cá nunca mais me falaram isso, talvez eu tenha conseguido superar alguma coisa. O que está me salvando é uma fé cada vez maior no meu trabalho, é perceber que posso despertar idéias e sentimentos fortes nas pessoas. Isso é muito recompensador, é o que me dá sentido na vida. Feitas todas as contas, meus piores conflitos foram proveitosos, me ensinaram muito no processo e serviram como alimentos poéticos. Em meus livros procuro transmitir a mesma vontade de superação que me impediu de cair, tento fazer com que o leitor chegue ao final do livro com uma coragem para a vida maior do que quando começou.

-Você é comunista? Você é reacionário? Você é anarquista? Ou você é só um porra-louca que não quer nada com nada?

Já fui julgado de tudo quanto é jeito possível, de reacionário a vanguardista. Não me apego a nenhuma ideologia, mas tem que ser muito alienado para gostar do mundo como está hoje. Se eu defendo alguma coisa é a liberdade, apesar de esse ser um conceito mais intrincado do que se pensa. Tentei colocar essa questão numa peça de teatro, “Problema capital”, que com sorte vai ser encenada e vai gerar uma discussão bem mais ampla do que posso fazer aqui.

- Você acredita em Deus? O que você quis dizer com aquele esquisitíssimo Supremo Esteta que aparece no “Será”?

Essa é uma pergunta que eu mesmo me faço o tempo todo, e na verdade não sei. Eu cresci ateu, e por muito tempo me dei bem com meu ateísmo, até gostava dele. Depois vieram esquisitices, e vivi algumas "sincronicidades” tão pontuais que acabei relativizando um pouco. Acho que nunca vou acreditar em um deus barbudo comandando as coisas lá de cima, mas não descarto a existência de alguma conexão íntima, algum fluxo entre as partes que vá muito além das leis de Newton.

Sobre o Supremo Esteta, tem a ver com uma frase do Nietzsche: Eu só acreditaria em um deus que soubesse dançar. No meu romance, o Esteticismo-maior é a religião dominante, cuja tese é a de que deus criou o universo somente para desfrutá-lo, tal como a uma obra de arte. Mas nem todos os personagens adotam essa religião, defendem que a fé não deveria ser institucionalizada, nem sequer nessa que seria a mais poética das religiões. Ou melhor, exatamente por ser poética, deveria prescindir de sacerdotes.