Saiu recentemente na Folha de São Paulo, (24/07), uma reportagem que abordou a última polêmica em torno de nosso ministro (e tropicalista) Gilberto Gil. Não vem ao caso, no momento, avaliar seu governo, mesmo que o MinC esteja atualmente passando por uma greve complicada, mesmo notando que o órgão libera milhões de reais para espetáculos cuja bilheteria já estaria garantida a preços impopulares. Deixemos isso de lado por um instante - nem todos os problemas de um ministério podem ser atribuídos a uma única pessoa, não precisamos alimentar essa tradição nacional que adora personificar algo tão capilar como o poder. A questão é outra, mas não me soa menos lamentável, apesar de bem mais sutil. Algo que é de responsabilidade completa dele, Gilberto, enquanto político mas também como músico e como cidadão e que requer uma análise.
O fato concreto se refere a uma canção dele, “Na internet”, que foi cedida ao Itaú Bankline para um comercial de tevê. A letra original retrata com otimismo essa mídia relativamente nova, a internet, por sua capacidade de aproximar distâncias, por nos conectar com múltiplas situações diferentes, inclusive as mais inusitadas. Versos como Eu quero entrar na rede pra contactar/ Os lares do Nepal, os bares do Gabão reflete os aspectos mais positivos dessa revolução nas comunicações. No entanto, o ministro-e-poeta, duplamente um dos principais nomes da nossa cultura, vendeu uma ótima música para uma utilização bem mais vulgar do que a de sua proposta original. Ao associar sua canção ao Bankline, divulgou o que a internet oferece de mais lugar-comum: serviços, circulação de dinheiro. O problema não é apenas o fato de ele ser ministro, e com isso comprometer a imagem de um órgão que não deveria, a princípio, demonstrar preferências a determinado grupo privado. Preocupa-me igualmente o fato de ele ser um excelente músico, e nem por isso se importar com um utilitarismo tão mesquinho para uma criação sua, algo que merecia ser apreciado sem esse ruído, sem essa captura. Se nem o político, nem o músico, menos ainda o cidadão percebe essa concessão como problemática, estamos diante de uma completa erosão de valores.
A publicidade não é, no Brasil, encarada com a devida seriedade. Boa parte de nossos artistas supostamente mais críticos já alugaram sua própria imagem em troca de um cachê vultuoso: podemos incluir aí José Celso, Arnaldo Antunes, João Gordo, entre tantos outros. Não acredito que seja, necessariamente, “coisa de marxista” considerar a publicidade um dos pontos mais problemáticos de nosso tempo. No mínimo, deveríamos ver a publicidade como uma grande rival e até mesmo uma antagonista da arte, por atribuir à estética uma função utilitária, interesseira. A grande arte deve aspirar à superação do mero materialismo, e não fomentá-lo. Posto que estamos vivendo no capitalismo, seria ingênuo ignorar que toda obra de arte termina se convertendo em mercadoria, e é justo que um artista possa viver de seu trabalho... contudo, a arte só possibilitará alternativas diante do onipresente e medíocre Mesmo se os criadores forem mais generosos com suas criações. Deveria ser natural para qualquer amante da arte repudiar a mercantilização barata das emoções que a publicidade promove, o emprego desonesto da estética, esvaziada de qualquer sinceridade, e a submissão da imaginação a uma lógica tão pouco promissora em termos de espiritualidade.
É difícil, quase impossível, imaginar qualquer perspectiva de um mundo melhor se não contarmos com o investimento em uma sensibilidade e uma consciência mais desapegadas quanto aos interesses imediatistas. Se até mesmo formadores de opinião considerados libertários demonstram que o dinheiro vem antes que qualquer outro valor, como é que as demais pessoas poderão seguir desejos mais satisfatórios do que o consumismo mais banal? Não me esquecerei tão fácil, por exemplo, que Gilberto Gil, ao ser convidado por Lula para assumir a pasta, hesitou por alguns dias, alegando que “não poderia passar quatro anos recebendo apenas oito mil reais por mês”. Se ele dissesse que não poderia ficar tanto tempo longe dos palcos ou dos estúdios soaria mais palatável, no entanto, do modo que se colocou ficou bem claro quais são suas prioridades. Ficam bem visíveis alguns aspectos deploráveis de Gilberto Gil - um, entre tantos artistas, que poderíamos admirar muito mais se ele próprio entendesse a real importância daquilo com que trabalha.
7.28.2007
7.02.2007
Como encontrar os livros?
"A Lâmina que Fere Chronos" e "Puro Enquanto" podem ser encomendados em qualquer livraria, mas se acharem que o prazo de entrega é muito grande, o site da Lojas Americanas está prometendo em menos tempo e ainda oferece desconto.
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Ag. 2926
C/C 19843-9
CPF 222.940.438-55
Se gostarem, recomendem para os amigos. Se não gostarem, para os inimigos
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